A tresloucada aventura golpista - ou, a desmedida é má conselheira...

Marcelo Guimarães Lima

A tresloucada aventura golpista atual de setores ultra-reacionários no Brasil, tais como a FIESP e o Partido da Imprensa Golpista, comandado pela fatídica Rede Globo, é analisada em esclarecedora entrevista do advogado  Carlos Franklin Paixão de Araújo para o Sul21. Para além do ativismo exasperado e sem horizontes, sem alternativas que não o golpe, evidencia-se a incompreensão maior sobre a realidade do país e a super-estimação mediática de suas próprias forças, receita fatal em todo e qualquer conflito. O golpe, se efetivado, observa o analista, não será a solução almejada pela direita, mas iniciará uma nova e ainda mais intensa e imprevisível etapa de confrontos.

No universo paralelo em que vivem os golpistas globais, políticos e empresários conservadores, a receita de 1964 será aplicada tal e qual contra a Presidenta Dilma Rousseff, o PT e a esquerda em geral, as organizações e os movimentos sociais, etc. Apenas desta vez com a ausência das Forças Armadas substituídas por juízes e policiais "independentes", isto é, irresponsáveis, e o país, magicamente amanhecerá, para gaudio de todos, "livre" do PT e de Lula, dos sindicatos, de toda e qualquer real alternativa política popular, a receita neoliberal dos tempos de FHC voltará a ser aplicada com a mesma intensidade, etcetera e tal.

Todos os sonhos reacionários "serão verdade", como dizia a canção natalina de autopromoção daquela antiga rede de televisão do finado século XX e do período ditatorial o qual, graças a mesma rede, teima em reaparecer na cena nacional tal qual cadaver insepulto, ou como fantasma e alma penada a assustar os desmemoriados e distraídos.

Graças à direita jurássica brasileira, a nossa milenar fratura social se mostra hoje em toda sua cristalina evidência, desta vez como fratura ideológica aberta no confronto entre duas visões opostas de futuro, uma delas puramente e tristemente regressiva, a outra evidenciando um Brasil que não cabe mais nas estruturas "milenares" do nosso apartheid social, da opressão de classe cotidiana e da "boa consciência" conservadora:  aquela que vê a democracia como uma espécie de regime "plebeu", a ser tolerado desde que não saia de certos limites bem definidos e sobretudo não questione o poder de fato dos "donos da nação".

Para estes, a política é a arena, não do confronto explícito e organizado entre diferentes modelos, formas ou concepções da sociedade, mas simplesmente do mando e do desmando, Qualquer iniciativa política dos "de baixo" é considerada uma espécie de crime de lesa-majestade, cuja única resposta é a ameaça de violência e, quando esta não mais impressiona, a violência pura e simples: "legal", extra-legal, etc, um "vale-tudo" que nada poupa e terminar por destruir o equilíbrio precário das relações de classe historicamente construído, destruir o equilíbrio do espaço político sem nada poder colocar em seu lugar. Um velho enredo, que conhecemos bem como começa e termina e  pelo qual não temos qualquer interesse.

O nihilismo da direita brasileira, o desespero em capturar o poder e alijar de modo radical quaisquer adversários, é hoje o signo  "a contrário" de possibilidades ainda pouco compreendidas mas não menos reais na vida nacional que apontam para um outro país, um outro Brasil que cresce a passos lentos e difíceis, mas cresce, no seio da velha sociedade.

O esforço gigantesco e desesperado dos golpistas, de juízes e policiais militantes e partidarizados da direita, da mídia golpista em plena decadência estrutural, moral e financeira, revela uma estratégia perigosa do tudo ou nada estreitando cada vez mais suas alternativas de ação eficaz, suas possibilidades de vitória, ali mesmo onde acreditam estar avançando em seus objetivos. A implantação de um estado policial, esboçado na chamada "República do Paraná",  teria um custo por demais elevado para os golpistas e seus aliados, empresários, servidores do estado, profissionais da mídia, etc.

Quem viver verá, e quem nesta hora puder ver, além do alarido e da fúria estéril dos que almejam a repetição tal e qual do passado, sobreviverá tanto mais efetiva e rapidamente um momento, na longa duração da história viva de um país, um período onde a direita "surtou" e acreditou que o seu delírio era a pura e completa realidade.





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