Uma (provável) analogia histórica...

Marcelo Guimarães Lima






Uma possível analogia histórica do momento de acelerada "desconstrução" nacional do Brasil hoje, por obra e graça de uma direita ensandecida e inebriada pelo seu aparente poder de decisão e de reversão temporal da realidade, seria, talvez, guardadas as evidentes desproporções de significado, bem como de qualidades humanas, de talento e realismo político, e tantas outras, os primórdios da Revolução Francesa! O otimismo da inteligência nos faz lembrar que a Revolução Francesa iniciou-se por um forte movimento de revolta da...aristocracia! Esta reclamava do rei e da sociedade a restauração de seus privilégios feudais caídos em desuso. A aristocracia francesa apostou na reversão do relógio da história, apostou grandemente, ousadamente e, perdendo a aposta, tudo perdeu: o movimento inicial de reorganização e reafirmação de seu poder sobre a nação, a sua "avassaladora" audácia inicial, revelou-se no curto e médio prazo impotente, infrutífera e terminou por impulsionar, pela reação dos "de baixo", a revolução burguesa e popular. A aristocracia perdera a justa medida do tempo e perdeu a cabeça, metaforicamente e de fato nos cadafalsos da crise revolucionária que ela própria ajudou a construir.

A história deveria ser uma mestra de prudência. Mas é fato que a confusão entre desejo e realidade, a superestimação das próprias capacidades são elementos constitutivos da "realidade" e da "irrealidade” humanas, e são problemas que afetam grandemente os nossos chamados homens "públicos" e os golpistas em geral no país hoje. Quando o “otimismo da vontade” não se conjuga, mas simplesmente substitui a cautela da inteligência, temos uma via aberta ao desastre. O esquecimento do passado, dizia o filósofo hispano-americano Santayana num outro contexto, alimenta a compulsão de repeti-lo. No nosso caso, conjugam-se os aspectos (apontados, justamente -quem diria? - por Hegel e Marx!) de farsa grotesca e tragédia anunciada.

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