TEMER FORA: SEGUE O GOLPE?

Marcelo Guimarães Lima

O morto político Michel Temer é, no momento em que escrevo, um cadáver insepulto, finalmente derrubado pela Globo. Do que se poderia concluir que o atual núcleo duro do poder da nação é a sempre nefasta e nefanda Rede Globo, antiga porta-voz da ditadura militar e perene porta-voz dos interesses antinacionais e antipopulares na história moderna do país. Mesmo o poder judiciário e sua ruidosa, brutal e ruinosa polícia política, instância associada à ou simbolizada no imaginário nacional pela triste figura do sr. Sérgio Moro (e de seu patrão o auto-ungido “vigilante judicial” sr. Rodrigo Janot) são, de forma consciente ou não, cada um a seu modo, Globo-dependentes.

Sem a Rede Globo, comandante de fato do Partido da Imprensa Golpista (Folha de São Paulo, Estadão, Rede Bandeirantes, SBT, CBN, Jovem Pan, etc, etc) não haveria golpe: não haveria este ruinoso golpe  contra os trabalhadores, contra as organizações dos trabalhadores, contra a sempre frágil democracia brasileira, contra a esquerda toda ela, contra a tristemente desorientada classe média brasileira, contra setores do empresariado brasileiro, contra a própria soberania nacional. A Rede Globo foi e tem sido o instrumento fundamental no Brasil dos interesses antinacionais internos e externos. O sepultamento do golpista sem-nocão, Michel Temer, atesta mais uma vez este fato. O que virá no futuro imediato? Eleição indireta: segue o golpe. Eleição direta, com o monopólio de mídia da direita, com este parlamento, com este judiciário, com as “perenes” condições estruturais que sustentam o domínio conservador no país, etc, etc, o resultado mais provável será a sequência do golpe: o Golpe 2.0.

O golpe é a encruzilhada do Brasil hoje. A ditadura civil-militar implantada em 1964 recrudesceu sua violência institucional e física em 1968 como resposta à crescente mobilização popular em desafio aos generais gorilas. O universo concentracionário dos meios de comunicação no país, o ativismo e a dominação da direita nos aparelhos do estado brasileiro e nas Forças Armadas, heranças da ditadura que a “moderadíssima” esquerda institucional brasileira não foi capaz de combater de modo efetivo, apontam para um provável desfecho infeliz para a democracia da crise política neste momento: o golpe dentro do golpe. E, no entanto, a direita que subverteu a ordem política, que jogou e joga uma cartada altamente problemática, incerta e arriscada, não é nem onisciente, nem onipotente: a história hoje, com a grave crise capitalista mundial “comandada” pelos EUA, é para todos (entenda-se: sem exceção alguma) um campo minado, o cemitério tanto das boas quanto das más intenções dos que se julgam temerariamente sujeitos absolutos de suas ações. Como bem devem (ou deveriam) reconhecer hoje, ainda que tardiamente, o srs. Michel Temer, Aécio Neves, mesmo o sr. José Serra, o PMDB golpista, o PSDB golpista, entre tantos outros. O Brasil de 2017 não é, apesar da Globo e sua extensa equipe de pseudo-jornalistas e estrategistas da desinformação, o Brasil de 1964 ou 1968.

Defenestrada a figura patética do sr. Michel Temer, o golpe segue seu roteiro e seus objetivos essenciais - a saber:  (como observaram alguns analistas mais atinados) destruir a esquerda, destruir o “centrão”, quer dizer o PMDB e sua sempre incerta e vacilante fisiologia, destruir as instituições da vida política nacional, destruir o pouco  que temos de soberania nacional, destruir a economia e vender como sucata o que restar, destruir a nação e recolonizar seu território e seu povo em nome da “redenção” neoliberal e sua ortodoxia.

No momento em que se evidencia no cenário político e econômico internacional a crise política, institucional, ideológica, etc, em resumo: a crise estrutural da hegemonia neoliberal forjada desde as últimas décadas do século passado  sob o comando da “potência única”, os setores hegemônicos da classe dominante brasileira promovem, com o golpe, uma desabalada “fuga para trás”, repetição compulsiva e improvável, apesar das aparências, do passado que atesta, no presente, a crise da dominação “tradicional”, impasse que se apresentou na história moderna com nome de fascismo.

O sepultamento político de Michel Temer é promovido pelos mandantes efetivos do golpe, em parte como resposta à crescente mobilização popular: derrubar Michel Temer antes que as ruas o façam, conter a crise dentro das estruturas vigentes para prosseguir com o golpe. A aposta é perigosa, já que o golpe na sua escalada grotesca, abalou gravemente as instituições. O remédio aqui pode matar definitivamente o doente.

 A história é mestra em ironias para os que podem e querem aprender (1). A todos os outros, aos afoitos de vários tipos, ela reserva as amarguras da decepção. Nas ruas o povo desenvolve rapidamente seu aprendizado político. Hoje a rua, com a classe trabalhadora à frente, destrói o monopólio do comando, da iniciativa e da comunicação dominante, destrói o espetáculo e transforma meros espectadores em protagonistas – o que se designa propriamente pelo nome de democracia. O futuro do país hoje se desenha nas ruas.

P.S.: ouvindo hoje, 18 de maio, no início da tarde a rádio golpista CBN de S. Paulo (com ajuda de um alka-seltzer pra desembrulhar o estomago) constatamos que, de fato, o golpe continua: segundo os amestrados e patéticos pseudojornalistas da emissora da família Marinho, a Globo não tem nada a ver com Temer, com Aécio, com a corrupção generalizada, com o golpe e, posando de "vestais" da pátria, podem estes profissionais do parajornalismo cinicamente, como é habitual, dar como real a sua visão interessada e particularíssima dos fatos.


(1) ver o nosso artigo UMA (PROVÁVEL?) ANALOGIA HISTÓRICA...- maio, 2016 aqui
(2) Marcelo Guimarães Lima - Crise e Espetáculo - a política na praça pública, in Alternativas Poético-Políticas ao Direito - A Propósito Das Manifestações Populares Em Junho De 2013 - Guerra Filho, Willis Santiago, organizador / LUMEN JURIS, Rio de Janeiro, 2014 aqui




 

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