Sobre Eduardo Cunha e a “fulanização” do golpe.

Marcelo Guimarães Lima






“Ele [Eduardo Cunha] não percebeu que, desde o dia em que comandou a implementação do processo de impeachment – do qual exigiu da tribuna a paternidade – tornou-se um cachorro morto para uma matilha de cães muito vivos.”


Fernando Brito (http://www.conversaafiada.com.br/brasil/brito-cachorro-morto-e-os-caes-vivos).


Como o articulista, eu acredito igualmente que não há muito o que comemorar com a queda de Cunha e sua espetaculização no congresso e na imprensa golpista: a “fulanização” do golpe interessa aos que dirigem na sombra todas as ilegalidades cometidas contra a jovem e frágil democracia brasileira. Ao mesmo tempo que pode nos alegrar um corrupto e corruptor a menos num congresso onde, estatisticamente, a corrupção parece ser a "norma", diz o ditado popular que uma andorinha apenas não faz verão.

“Fora Temer”, a palavra de ordem do momento deve ser esclarecida pelos militantes contra o golpe como significando: “Punição aos Golpistas”, todos: do legislativo, do judiciário, da polícia, dos partidos. Todos: de Michel Temer a José Serra, Aécio, o ancião desmemoriado chamado FHC, o truculento ministro da (in)justiça sr Alexandre de Moraes, Alckmin, a cúpula toda do PMDB junto com a ralé golpista do baixo clero parlamentar e incluindo as famílias da comunicação monopolizada do Brasil: Marinho, Frias, Saad, etc., responsáveis diretos do caos político cultivado, planejado e da absurda regressão social e econômica que querem impor ao país. Seria tal exigência uma simples fantasia, quando tudo parece “perdido” de antemão e o golpe, que depôs a presidenta eleita, consolidado?

A história é o lugar (e o tempo) da imprevisibilidade, do possível que engloba a atualidade e do que quase sempre escapa à nossa (sempre limitada) imaginação e inteligência: depois da bonança (de alguns) vem a tempestade e vice-versa. Como duas faces de uma mesma moeda, a bonança de alguns é a tempestade de outros e o tempo não para.

A hubris de Eduardo Cunha foi sua perdição: sai reclamando a paternidade do golpe, lembrando o seu papel decisivo na crise atual, pobre argumento final de quem nada mais tem a dizer de útil aos senhores do golpe. A megalomania é seu modo de ser no triunfo e na derrota: uma carreira de décadas roubando o dinheiro público, impunemente, consolidou para o ex-parlamentar a imagem de si como hábil dono de seu destino e do destino de seus aliados e colaboradores e a imagem do país como a terra dos inescrupulosos e dos “espertos”.

Em declarações recentes à imprensa golpista, Eduardo Cunha parece lamentar sua intrepidez contra a democracia, contra a presidenta Dilma Rousseff, contra parte do judiciário, etc. O grande manipulador foi manipulado: poderia ser uma sóbria lição aos demais golpistas e ao “interino”, seus “ministros” e demais usurpadores, mas tal consideração, creio eu, superestima a inteligência golpista nacional, toda ela.



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