A Venezuela é aqui

Marcelo Guimarães Lima




Uma análise breve e pertinente da situação na Venezuela é feita pelo jornalista francês Maurice Lemoine nesta entrevista a um canal de televisão na França (aqui) . Em vários pontos o entrevistado contraria, com fatos e argumentos, a versão que é introduzida de forma "bem educada" pelo entrevistador, quer seja, a versão única da mídia amestrada mundial, repetida ad nauseam na imprensa monopolizada do Brasil, que responsabiliza única e exclusivamente o chavismo pela crise atual, como se não houvessem interesses e ações dentro e fora do país, ações de grupos e mesmo de estados, para fomentar a crise e desestruturar a economia e a organização política da Venezuela.

Ao referir-se à oposição na Venezuela, Maurice Lemoine faz uma observação importante contrastando a direita européia, ou uma parte importante dela, com a direita venezuelana. A direita européia, os partidos e políticos no processo institucional, afirma o jornalista, demonstra lealdade ao sistema representativo, responsabilidade para com a estabilidade, a preservação e funcionamento das instituições da vida política nacional. Ao contrário a direita venezuelana se alia indistintamente à extrema direita. Ou seja, o papel da direita na Venezuela é a "mudança de regime" por todos e quaisquer meios necessários, processo onde se confundem meios legais de oposição e meios ilegais, meios institucionais, a guerra da comunicação e da desinformação e a violência pura e simples.

Eis aqui uma chave para a compreensão do momento atual do golpe no Brasil. Está claro que uma mesma matriz informa os recentes movimentos da direita na América Latina. A "mudança de regime" é o alvo final e todos os meios são e serão empregados para tanto. Analistas mais avisados no Brasil tem alertado a direita parlamentar, os partidos e seus caciques, que a continuar a linha dura do confronto com a vontade da maioria do povo representada, no seu aspecto mais aparente, na caçada a Lula empreendida pela "República de Curitiba" que é sustentada pela mídia e pela justiça (a qual no Brasil, como afirmou um comentarista , é ela mesma um partido político de direita) e ao insuflar continuamente o ódio de classe, os golpistas instrumentalizam a extrema direita, processo do qual, a partir de um certo momento, não haverá volta. O alerta é pertinente, mas, creio eu, cai em ouvidos moucos. O golpe é um jogo de tudo ou nada, e a incivilizada e truculenta direita brasileira não vai se acanhar por questões meramente "formais".

O golpe aqui, o golpe na Venezuela, as tentativas e preparações para o golpe no Peru e demais países que ousaram nas últimas décadas ensaiar e implementar políticas populares, tem uma matriz comum e uma única finalidade "total", variam apenas nas condições conjunturais internas e nos ritmos que estas impõem aos direitistas. E quem achou ou acha que não, não está em condições de empreender uma luta minimamente eficaz contra os golpistas e seus aliados na justiça, na imprensa, nos aparelhos de estado no Brasil.

"Quem pariu Jair Bolsonaro?"pergunta o jornalista Paulo Henrique Amorim: "Se o Lula não for candidato no ano que vem, e essa política econômica de deflação com depressão continuar até lá (o que provocará desemprego em massa), teremos de nos preocupar com Bolsonaro.
Afinal, foi assim que Trump - aquele em que ninguém acreditava - se elegeu."

O personagem Bolsonaro, creio eu, dadas as suas limitações pessoais evidentes, é um personagem menor nesta trama, inventado e alimentado pelo Globo, Folha de São Paulo, Veja e demais membros do Partido da Imprensa Golpista. Mas o que Bolsonaro significa é sim importante: Bolsonaro é o nome da "solução final"(ao mesmo tempo a solução "natural", aquela que vai finalmente se impor quando outras falharem), a explicitação do fim perseguido pela classe dominante brasileira e pela matriz neoliberal externa de ruptura total com o "status quo ante", isto é, o período em que o PT comandou (relativamente) a política e ensaiou orientações de (relativa) soberania nacional, a formação de um mercado interno estável, a relativa democratização do acesso ao ensino, aos direitos básicos da cidadania, etc.

Direita e extrema direita se tornam assim, no Brasil hoje, designações contextuais, momentos de um processo único, contínuo, de uma verdadeira blitzkrieg contra o país e seu povo.

Inútil, creio eu, lembrar a personagens como o sr Aécio Neves, o ex-intelectual FHC, Maia, Temer e demais membros golpistas da direita institucional o triste fim do aprendiz de feiticeiro da lenda.


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